Cascas de Ëxtase
Para o poeta "Assis de Mello"
I
O elmo da garagem aflige
o chão
e a fome do após-esterco
— pugna por gritos em pugna
tão atroz —
gira como o azedume dos frutos pêcos
que giram com o desgalhar dos Cedros
conquanto não-crescidos
murcham
como as mangas grávidas
em quase-aborto
e
se comparam aos poetas metafísicos
com as barbas por fazer;
e na aurora do meu olhar
surgem como cascas de êxtase,
fissuradas,
desconjuradas.
[Oh, meu amor!
Algum sangue perambulando pelaí
há que hastear carona
na mochila do futuro...]
II
Ai!... Congemino
que a palavra
day by
day
não morra golfando
como o talho.
Sob o meu queixo
uma flâmula se cobre com vento
e arrasta consigo a poesia
para proteger-me da veste inconsútil.
Célere,
à noite [mimada tarântula],
cubro-me com um adágio apaixonado
— interstícios do amor
e da morte exorcismados —
e me permito
face to
face
vagabundear
pela coerção do poema
tal qual um deus
bárbaro
violentando o corpo da manhã.
III
Enquanto isso,
na inconsciência dos algozes cruéis,
em silêncio, o sol brocha,
designa que eu me afaste da verve possuída.
Só.
Douro a expiação, demito a inutilidade
e asfixio o negror dos esfomeados
com os meus estercos religiosos
onde nem o marasmo flumíneo da agonia
e nem os olhos ávidos da chuva
conseguem me desviar
do ferrão.
IV
Cerceio a lógica
e me afasto da inalterabilidade
das coisas.
Calar
seria ignorar o silêncio atroz,
e a minha voz não é covarde.
Acovardar
seria ignorar
os distintos fulcros que avisto,
e eu não sou comparte com o cais de dores...
E inda que eu não sirva
como sentido poético,
que eu me assemelhe ao risco calculado,
que eu sirva para ser como fábula de isopor,
que eu me defina como fumaça-que-passa
— porque eu detesto
ser como a dúvida.
V
Oh, silêncio!
Oh, cravo!
— Eu escrevo o que galo.
Ai, apraz-me ser o lume de poetar
dentro da piração grávida...
E inda que condenado
a ser como o empirismo das tardes,
eu me afino pelo tom de alguma mão
que tateia outras mãos,
daí eu me permito
tocar no soluço
que jaz na garganta;
daí eu me permito coexistir
num mundo etéreo
que não me deixa amarelar.
© Benny Franklin
Nota: Fotografia de "Oleg Duryagin", meu novo amigo e astro russo da fotografia mundial que gentilmente autorizou-me a usar as suas instigantes fotografias nas postagens dos meus poemas.
eu me afino pelo tom de alguma mão
que tateia outras mãos,
daí me permito tocar o soluço
que jaz nas gargantas,
daí me permito coexistir num mundo etéreo
que não me deixa amarelecer.
Assim é o Poeta da Terra!
OS HF
Benny:
Receba meu abraço e minha homenagem por esse trabalho diferenciado , coisa de poeta amadurecido , pra lá da excelência !!
O título do poema já faz pensar, o poema todo é um êxtase de palavras e ideias singulares, a última estrofe surpreende pelas beleza. Vou ler de novo para alcançar o seu voo. Bj.
gosto da tua conjunção de palavras, do (etér)io em tua poseia...sempre leva a outro universo...
todo um jogo belissssimo de palavras e metaforas, gostei muito, um abraço, myra