Palavras à Beça!
(À Memória de Aníbal Beça)
I
Concreto
o poema
após-manufaturado
age
como escápulas baldias
inteiramente arvoreadas.
II
Absortas
raízes voltam a crescer no homem-palavra.
(É dificílimo negá-las uma porção de poesia
quando elas afrontam o dia
com suas vaginas de fome...)
Por elas
a lâmina combóia o que lhe passa
ao perto e ao longe
e sua seiva saliva no esgoto
o que lhe move e entedia
e se manifesta como verrugas em couve-flor
e se devassa como gritos
que são entretidos e enforcados
e seu alimento fermenta o que lhe caçoa e amarga
e seu verbo remove o que lhe masturba e malfaz
e seu negrume conturba o que lhe arma e vela
– ai! –, amamenta a margenta cor,
pisa-lhe a cerviz.
III
Subfalação
somos
andaço de infelicidade na face dos homens
sujeitos a uma vida que não desmerecem
sujeitos a um nu de pluma de irado fugitivo
que ora submorre
– ai! – somos lentas marchas
que alcançam
a grade das enodoadas partidas.
IV
Oh, madrugada!
Cada outono de orgasmo
tem seu próprio escopo,
que nos entorna sobre o vago e segreda:
amanhece, amanhece!
©Benny Franklin
Nota: Escrito e postado no Overmundo dia 23/08/2009 antes de o poeta falecer, fato ocorrido às 6:30 de hoje (25/08/2009), na cidade de Manaus.
Fotografia (Incertos destinos)
gentilmente cedida pela fotógrafa paraense "Ana Mokarzel".
Benny, teu poema me deu a notícia. Fiquei tão triste. Grande amigo e poeta, saudades à Beça... Deixo aqui um fragmento de um de seus poemas que mais gosto, "A Palavra Noturna":
Ó raiz tão clara
meu fogo das cinzas
nomeia teu sopro
na lavra de brasas
e acorda esses sons
que são desse mundo
silêncio das coisas.
Eis o desafio :
história remota
fincando no fim
seu próprio começo:
a História da vida.
abraço.
Como sempre o talento que verte
A verve , melancólica,
supurando poesia !
Minha reverência !
Quem soube desse modo captar a vida, certamente estará sabendo captar a morte - seja ela o que for.
Ficou bem a minha escultura no cabeçalho do blogue, não me lembro de ter sido avisado desta honra.
Em cada coração, uma caverna...
Homem ou mulher, um dia, o ser engravida,
E renasce a luz de Maria,
E o Anjo de novo anuncia.
Na pobreza e no abandono,
O Mistério se cumpre em cada um
Que se descobre longe da cruz,
Levada pelo mesmo sangue Jesus.
E a Rainha olha por todos,
E seu manto azul é escudo da Terra,
Protege e perdoa mesmo quem erra.
Mãe, mater, Matéria divina, que vibra
E esmaga serpentes e dragões,
E resgata o peregrino
De um deserto de aflições
E há de saber um dia,
Livrar-nos de toda miséria.
Salve, Maria!
Salve, Rainha!
Texto O Doce Mistério de Maria de Fauzi Arap
Extraído do disco Cânticos, Preces e Súplicas
à Senhora dos Jardins do Céu - 2000
ah dor...